Câncer de pulmão além do cigarro: risco também para quem nunca fumou

Câncer de pulmão além do cigarro: risco também para quem nunca fumou

Vapes, poluição e fatores genéticos ampliam o foco das pesquisas sobre câncer de pulmão. Diagnóstico precoce e medicina personalizada são aliados essenciais

Por Beatriz Pinto, líder para sequenciamento clínico da Thermo Fisher Scientific e mestre em Bioinformática pela USP, com trajetória em pesquisa científica sobre tuberculose, câncer e aplicações clínicas da proteogenômica.

Quando falamos em câncer de pulmão, o cigarro ainda é o principal vilão. Mas não é o único. O número de casos entre quem nunca fumou cresce¹, impulsionado por fatores como poluição, fatores genéticos, alterações hormonais e inflamações crônicas.

Ao mesmo tempo, preocupa o aumento do uso de cigarros eletrônicos, principalmente entre os jovens. Segundo a Fundação do Câncer², esses dispositivos estão ligados ao crescimento de doenças pulmonares e podem aumentar, no futuro, a incidência de câncer. Já foram associados a uma condição grave chamada Evali³ e abrem uma nova porta para o tabagismo. Estudos mostram que a exposição a substâncias inaladas, inclusive por vapes, pode causar mutações genéticas parecidas com as provocadas pelo cigarro convencional.

No Brasil, são cerca de 32 mil novos casos anuais, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA)⁴. O problema é que esse tipo de câncer costuma ser silencioso, com sintomas vagos ou inexistentes nos estágios iniciais. Por isso, a campanha Agosto Branco reforça a importância da prevenção, do rastreamento e do diagnóstico precoce.

Sintomas como tosse persistente, dor no peito, escarro com sangue, falta de ar, rouquidão, perda de peso e cansaço geralmente aparecem quando a doença já está avançada. Cerca de 63% dos casos são descobertos tardiamente, o que dificulta o tratamento e reduz as chances de cura.

Entre os tipos mais comuns está o câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC), responsável por até 85% dos casos. O adenocarcinoma tem ganhado atenção especial, sobretudo entre mulheres que nunca fumaram, segundo estudo publicado na The Lancet Respiratory Medicine¹.

A detecção precoce passa por exames de imagem, como a tomografia de baixa dose, indicada para grupos de risco. Uma vez diagnosticado, avanços na testagem genética de biomarcadores tumorais vêm abrindo um novo horizonte terapêutico: a identificação de alterações moleculares clinicamente relevantes que orientam tratamentos alvo-direcionados mesmo em estágios mais avançados.

Oncologia de precisão

Na luta contra o câncer de pulmão, a medicina de precisão tem se mostrado uma aliada poderosa para a personalização de tratamentos. Testes moleculares que detectam alterações genéticas em genes como EGFR, ALK e ROS1 ajudam médicos a escolher terapias-alvo mais eficazes, aumentando as chances de sucesso.

Tecnologias como o sequenciamento de nova geração (NGS) permitem analisar uma ampla gama de alterações genéticas ao mesmo tempo, com rapidez e amostras biológicas mínimas — um avanço crucial diante das limitações de biópsias no câncer pulmonar. Os testes por NGS vem sendo cada vez mais utilizados, ampliando o acesso e reduzindo o tempo entre diagnóstico e tratamento. Da bancada ao leito, a tecnologia conecta ciência e vida.

Combater o câncer de pulmão exige um esforço conjunto em três frentes: prevenir, com políticas públicas e campanhas antitabagismo; diagnosticar mais cedo, mesmo entre não fumantes; e personalizar o tratamento para torná-lo mais eficaz e assertivo.

À medida que a ciência avança, cresce a responsabilidade de garantir o acesso democrático às tecnologias diagnósticas e terapêuticas. A integração entre inovação, saúde pública e educação é fundamental para transformar essa realidade.

Agosto é branco. Mas é o conhecimento que pode colorir o futuro — com mais diagnóstico precoce, menos tabaco e mais tempo para a vida.

Referências bibliográficas:

Notícias

Câncer de pulmão além do cigarro: risco também para quem nunca fumou

Digite aqui a sua pesquisa