Artigos Científicos

Edição 243 – Culturas de Vigilância e Monitoramento da Resistência Antimicrobiana em Bacilos Gram Negativos de um Hospital Escola de Goiânia-GO

por Rodrigues, Ronniel de Almeida¹
Silva, Wallace Jeronimo da¹
Matsunaga, Kely Tiemi²
Cardoso, Alessandra Marques³

RESUMO

As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) figuram-se como um importante Evento Adverso persistindo nos serviços de saúde e afetando diretamente os pacientes. Nesse contexto, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) tem papel de controle e prevenção das IRAS, promovendo o monitoramento dos micro-organismos multirresistentes (MDR) através das culturas de vigilância, realizadas pelo Laboratório de Microbiologia. Assim, este estudo objetivou monitorar fenótipos de resistência antimicrobiana em bacilos Gram negativos de um hospital escola de Goiânia-GO a partir de culturas de vigilância, por meio da análise do banco de dados fornecido pela CCIH. Referente ao período de julho/2015 a julho/2017, foram analisadas 4.026 culturas de vigilância, das quais 635 mostraram-se positivas, sendo isolados 566 bacilos Gram negativos, dos quais 426 (75,3%) apresentaram perfis MDR. Foram prevalentes Pseudomonas aeruginosa (31,4%), Klebsiella pneumoniae (23,0%), Acinetobacter baumannii (19,1%) e Escherichia coli (8,3%). Juntos, os demais bacilos Gram negativos corresponderam a 18,2% do total de cepas isoladas. Os achados são impactantes e reforçam que as culturas de vigilância são essenciais na identificação e elaboração de estratégias que visem à diminuição dos índices de IRAS.

PALAVRAS-CHAVE: infecção hospitalar, controle de infecções, Pseudomonas.

SUMMARY

Health Care-Related Infections (IRAS) appear to be an important Adverse Event persisting in health services and directly affecting patients. In this context, the Hospital Infection Control Committee (CCIH) has the role of control and prevention of IRAS, promoting the monitoring of multiresistant microorganisms (MDR) through surveillance cultures, carried out by the Microbiology Laboratory. Thus, this study aimed to monitor antimicrobial resistance phenotypes in Gram negative bacilli of a school hospital in Goiânia-GO from surveillance cultures, through the analysis of the database provided by CCIH. Regarding the period from July/2015 to July/2017, 4,026 surveillance cultures were analyzed, of which 635 were positive and 566 Gram negative bacilli were isolated, of which 426 (75.3%) had MDR profiles. Pseudomonas aeruginosa (31.4%), Klebsiella pneumoniae (23.0%), Acinetobacter baumannii (19.1%) and Escherichia coli (8.3%) were prevalent. Together, the other Gram-negative bacilli corresponded to 18.2% of the total isolates. The findings are striking and reinforce that surveillance cultures are essential in the identification and elaboration of strategies aimed at reducing the rates of IRAS.

KEYWORDS: Hospital Infection, Infection Control, Pseudomonas.

INTRODUÇÃO

As Infecções Hospitalares (IH) ou Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) figuram-se como um importante Evento Adverso (EA) que persiste nos serviços de saúde e que aumentam gradativamente o tempo de internação dos pacientes, elevando custos e os índices de morbidade e mortalidade nas diversas unidades de saúde do Brasil(¹,²,³).

A segurança do paciente é definida como a diminuição a um mínimo aceitável de danos desnecessários associados aos serviços de saúde. A ocorrência de erros e de EAs se relacionam a grande deficiência na prestação de serviços de qualidade em relação aos cuidados em saúde, tendo como consequência um alto custo social e econômico tanto aos pacientes, quanto às instituições(³,⁴,⁵,⁶).

A cultura de vigilância
é um importante método
de controle das IRAS,
objetivando a identificação
de pacientes colonizados
por micro-organismos
potencialmente patogênicos
e multirresistentes

A qualidade dos serviços nas instituições hospitalares busca oferecer serviços de qualidade que não apresentem riscos ou danos aos seus clientes, de forma que exista segurança nos procedimentos de rotina, que são constantemente avaliados e melhorados fornecendo aos pacientes e profissionais um ambiente com taxas mínimas de erros e, sobretudo, um decréscimo nas taxas de EAs. Por consequência, a padronização dos serviços de saúde, com relevância em qualidade dos serviços teve uma ampla força com os programas de acreditação hospitalar, onde se avaliam externamente e ainda se verificam os padrões de conformidades dos serviços prestados com o objetivo de atendimentos com alta qualidade, redução das taxas de EAs e um maior controle das IH(⁷).

A Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH) apresenta um importante papel no controle e prevenção das IRAS, promovendo monitoramento constante dos micro-organismos multirresistentes (MDR). Neste ínterim, a busca da CCIH está vinculada ao Laboratório de Microbiologia, responsável pelos exames e diagnósticos laboratoriais. Assim, a CCIH apresenta como uma de suas maiores prioridades, a segurança do paciente nas unidades de saúde(⁸).

O risco eminente da disseminação de micro-organismos nos ambientes hospitalares pressupõe o uso de medidas de prevenção estabelecidas pela CCIH e focadas em um controle seguro das IH. Ou seja, para o referido controle é necessário o uso das Precauções Padrões (PP) que se baseiam em qualquer estratégia utilizada nos casos suspeitos ou confirmados de doenças infectocontagiosas(⁹).

O Laboratório de Microbiologia é responsável pela vigilância ativa, com a finalidade de isolar e identificar os micro-organismos patogênicos por meio de métodos de pesquisa e análise, onde se verifica os micro-organismos em interação com o homem e os classificam de acordo com seu perfil. O isolamento realizado pelo laboratório tem como objetivo fornecer informações para a equipe de saúde e buscar uma melhor forma de tratamento específico para o determinado patógeno(¹⁰).

A cultura de vigilância é um importante método de controle das IRAS, objetivando a identificação de pacientes colonizados por micro-organismos potencialmente patogênicos e multirresistentes. Em decorrência disso, esta vigilância ativa almeja uma resposta favorável nos índices de controle de IH, mas que exige estudo de implantação desse método, uma vez que os fatores epidemiológicos das instituições devem ser levados em consideração, bem como seus índices de surtos relacionados aos MDR. Assim, torna-se necessária a qualificação e grande empenho das equipes de saúde(¹¹).

A vigilância epidemiológica pautada nas culturas de vigilância está vinculada aos programas de prevenção e controle sancionados pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), que é responsável pela divulgação de relatórios periódicos para os demais setores do hospital. Se por um lado as culturas de amostras clínicas realizadas rotineiramente pelo

Laboratório de Microbiologia auxiliam no controle das IRAS, por outro as culturas de vigilância são úteis no monitoramento de micro-organismos multirresistentes, sendo capazes de detectar a colonização de patógenos em sítios não estéreis de pacientes hospitalizados(¹²).

A resistência microbiana (RM) é um grande problema relacionado à saúde pública, estando diretamente ligada aos altos índices de IH, uma vez que a crescente evolução das bactérias resulta na resistência aos fármacos utilizados em seu controle. Assim, o perfil de resistência bacteriana cresce de modo célere devido à utilização inadequada dos antimicrobianos, dentro e fora das unidades hospitalares(⁷,⁸).

As principais causas para este elevado perfil de RM encontram significado nos seguintes mecanismos desenvolvidos pelas bactérias: diminuição da permeabilidade da membrana externa, alteração na estrutura das porinas, alteração do sítio de ligação dos antibióticos, aumento da expressão do complexo bomba de efluxo citoplasmático e produção de enzimas como betalactamases carbapemases, responsáveis pela inativação e resistência aos antimicrobianos
betalactâmicos(¹³).

A elevada resistência dos micro-organismos frente aos antimicrobianos representa umas das principais dificuldades enfrentadas no âmbito hospitalar. A crescente resistênciaapresentada pelos membros da família Enterobacteriacea e tem resultado no surgimento de espécies cada vez mais multirresistentes, as quais representam grave problema à saúde humana. Esta vasta expansão demanda maior esforço das equipes multidisciplinares de saúde(14).

A família Enterobacteriaceae constitui o maior e mais diversificado grupo de bacilos Gram negativos de importância médica, sendo constantemente isoladas a partir de diferentes amostras biológicas. São responsáveis por elevados índices de IRAS, juntamente com os bacilos Gram negativos não fermentadores da glicose (¹¹,¹²), os quais encontram-se extensamente distribuídos no meio ambiente, estando crescentemente associados às IRAS, afetando principalmente pacientes imunodeprimidos e/ou aqueles em período pós-cirúrgico(¹⁵).

Neste cenário, o presente estudo objetivou monitorar a resistência antimicrobiana de bacilos Gram negativos em um hospital escola de Goiânia-GO, no período compreendido entre julho/2015 e julho/2017, a partir de resultados de culturas de vigilância.

¹ Acadêmico do Curso de Biomedicina da Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
² Biomédica Especialista em Microbiologia (Instituto Educacional Santa Catarina).
³ Doutora em Medicina Tropical e Saúde Pública (Universidade Federal de Goiás). Professora adjunta da Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Biomédica da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás.

(Leia artigo científico completo na íntegra da revista LAES&HAES edição 243)

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