Artigos Científicos

Edição 240 – A Beleza do Teste de Disco Difusão: Um Legado que Não Deve Ser Esquecido

por Andre Hsiung

No início dos anos 90, quando comecei minha carreira em Microbiologia Clínica, o único sistema automatizado de sensibilidade em meu laboratório era o Vitek Legacy. Diga-se de passagem, para um jovem aspirante a microbiologista, era uma maneira muito conveniente de ficar preguiçoso, já que quase tudo era colocado no Vitek para identificação e sensibilidade.

Enquanto alguns testes de difusão de disco e método de gradiente de concentração eram feitos em alguns casos (organismos exigentes, ou para confirmar os resultados
do sistema automatizado), eu diria que o Vitek era a força motriz do nosso laboratório. Conectar os resultados do Vitek com o LIS (Laboratório Information System) e liberar os resultados de microbiologia eletronicamente era uma maneira muito conveniente de fazer microbiologia e facilitou meu trabalho. Era como se todos os dias eu estivesse no piloto automático onde as prioridades eram carregar os cartões no Vitek e liberar os resultados em lotes. A vida fácil não durou muito quando os mecanismos de resistência emergentes começaram a ser discutidos em conferências, e esses mecanismos esotéricos de resistência exigiram testes confirmatórios adicionais.

Lembro-me de um dos congressos da Sociedade Americana de Microbiologia (ASM), em uma palestra do dr. Ken Thomson (na época afiliado à Creighton University), onde ele enfatizou a relevância de um mecanismo especial chamado beta-lactamases de espectro estendido e quão importante era ser observado por causa de sua importância para fins terapêuticos.

Era alarmante saber que, mesmo nos casos em que um organismo pode parecer suscetível a uma cefalosporina de amplo espectro, pode ser ineficaz in vivo, e que alterar os resultados de sensibilidade era necessário. O que também não ajudava é que podia estar associado com outros mecanismos, como o AmpC (outro tipo de beta-lactamases) dentro do mesmo organismo. Por causa desses mecanismos especiais, e porque a automação ainda estava engatinhando em relação a avisos ou comentários especiais (sistema expert), nosso laboratório adotou o teste de difusão em disco paralelamente à automação em todas as culturas de sítios estéreis e, quando era necessária uma confirmação adicional, o sistema de gradiente de concentração também foi realizado quando necessário. Se perguntado, eu diria que este foi o ponto de virada de minha vida microbiológica, onde eu passei de um microbiologista mundano para um “nerd” de suscetibilidade.

A leitura das placas de Kirby-Bauer se tornou o ponto alto da minha rotina diária onde eu vasculhava cuidadosamente pilhas de placas de Mueller Hinton procurando por Enterobacteriaceae com zonas de inibição e padrões de sensibilidade incomuns e referência cruzada com os resultados do Vitek. Quando pertinente, também realizaria testes confirmatórios adicionais para confirmar ou não as suspeitas. Lembro-me de ter devorado todos os artigos científicos publicados sobre as beta-lactamases; todos os trabalhos de Thomson et al, as publicações clássicas de Bush-Jacoby-Medeiros, etc., e artigos de estudiosos europeus, como Alain Philipon e David Livermore; e até mesmo contatei dr. Thomson quando encontrei meu primeiro ESBL(beta-lactamases de espectro estendido). Encontrar minha primeira experiência com a ESBL foi tão emocionante que pode ser comparado a uma criança vendo o Mickey Mouse pela primeira vez na Disneylândia!

É claro que a vida em um laboratório de Microbiologia de rotina não era apenas encontrar ESBL a qualquer custo. Tratava-se também de aprender a captar os nuances de todos os outros mecanismos emergentes quando o sistema expert dos métodos automatizados era limitado. Em essência, a leitura dos testes de sensibilidade manual requeria um senso de acuidade maior, pois quando pequenos nuances são perdidos, um organismo resistente pode passar despercebido.

Do ponto de vista de um nerd de testes de sensibilidade antimicrobiana (TSA), a difusão em disco (também conhecida como teste de Kirby-Bauer) é uma arte. É mais do que apenas colocar discos e medir os tamanhos das zonas de inibição. Trata-se de saber o suficiente sobre as bactérias em questão, colocando os discos de forma estratégica para prever os possíveis mecanismos de resistência usando drogas indicadoras, e interpretar judiciosamente cada nuance de acordo com potenciais pistas e padrões fenotípicos.

Além disso, a combinação de conhecer os padrões intrínsecos de resistência por gênero ou grupo de bactérias e conhecer os padrões incomuns serve para auxiliar (ou excluir) gêneros/espécies no processo de identificação.

(Leia este Artigo Científico completo na edição 240 da revista LAES&HAES)

ANDRE HSIUNG é diretor de Serviços Técnicos, Hardy Diagnostics, Califórnia, Estados Unidos.
Contato: HsiungA@hardydiagnostics.com

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