Questionário

EDIÇÃO 239 – GABARITO

O SISTEMA DUFFY E SUA RELEVÂNCIA NA MEDICINA TRANSFUSIONAL
Texto Complementar

O Sistema Duffy: No inicio da década de 50, Cutbush et al, detectaram os primeiros anticorpos desse sistema que recebeu o nome de Duffy em lembrança ao paciente hemofílico politransfundido no qual foi encontrado o primeiro anticorpo desse sistema. Esse anticorpo recebeu o nome de Anti-Fyª. Um ano mais tarde Ilkim et el, descreveram um anticorpo como anti-Fyb encontrado no soro de uma mulher com história de três gestações e que definiu o antígeno antitético do Fyª e o antígeno Fyb. Em 1955, Sanger et al, observaram que o fenótipo Fy (a-b-) era o mais comum em afro-americanos. Embora FyFy parecesse um genótipo comum em negros, sobretudo na África era muito raro em brancos. Um dos aspectos interessantes dos antígenos Duffy é a sua função de receptor de merozoítas de Plasmodium vivax e de P.Knowlesi, que são respectivamente os agentes responsáveis por diferentes formas de malária no homem e no macaco. Em 1975, Miller et al, colocou em evidência a resistência dos eritrócitos Fy(a-b-) a infecção do organismo pelo microrganismo causador da malária, Plasmodium Knowlesi e como é conhecido atualmente P. vivax, um exemplo de seleção natural em seres humanos. Embora raros outros anticorpos do sistema Duffy já foram identificados e seus antígenos como Fy3, Fy4, Fy5, Fy6 tem contribuído para compreensão do sistema de grupo sanguíneo Duffy que é chamado de FY ou 008 pela ISBT.

Em 1980, a Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (ISBT) formou um grupo de trabalho (Working Party on Terminology of Red Surface Antígens) para estudar uma nomenclatura que pudesse ser expressa mais facilmente nos meios eletrônicos como os computadores. Assim foi criada a nomenclatura numérica do ISBT conforme tabela 1.

Antígenos do Sistema Duffy: Os antígenos Fyª (FY1 ou 008.001) e Fyb (FY2 ou 008.002) são os mais frequentes nas rotinas sorológicas, também considerados os mais importantes.

• Estão bem desenvolvidos ao nascimento;
• Não foram detectados em plaquetas, linfócitos, monócitos ou granulócitos;
• Mas foram identificados no cérebro, pulmão, baço, tireoide, timo, rim, cólon, endotélio;
• Não são estáveis quando congelados;
• Esses antígenos tendem a eluir quando armazenados em soluções com PH baixo ou baixa força iônica;
• Quando armazenados em anticoagulantes ou soluções reagentes comercializadas não são observadas alterações do antígeno Fyª e Fyb;
• São destruídos por enzimas proteolíticas, como bromelina, ficina, papaína entre outras substâncias que são mais raramente utilizadas.

Anticorpos Anti-Fya e Anti-Fyb: Considerando que os antígenos Duffy são moderadamente imunogênicos, o anti-Fyª é três vezes menos frequente que o anti-Kell. Enquanto o anti-Fyb é 20 vezes menor que o anti-Fyª e quando identificado é frequente ocorrer em combinação com outros anticorpos. O anti-Fyª parece ser mais imunogênico em brancos Fy (a-b+) que em negros Fy (a-b+).

Algumas características do Anti-Fyª e Anti-Fyb
• Habitualmente pertencem à Classe de IgG;
• Reagem melhor na fase de antiglobulina;
• A atividade do anticorpo pode ser acentuada em meio de baixa concentração iônica;
• Não reagem com eritrócitos tratados por enzima, o tratamento enzimático é um recurso indicado quando se suspeita de algum outro anticorpo associado ao Duffy;
• Podem não apresentar efeito de dose;
• Podem causar reações transfusionais hemolíticas embora raramente seja grave;
• Podem causar reação transfusionais hemolíticas tardias;
• Estão associados à Doença Hemolítica Perinatal que varia de leve a grave e com maior frequência pelo anti-Fyª do que pelo anti-Fyb.

Associação entre Duffy e Malária: sabe-se que os antígenos do sistema Duffy tem função de receptor de merozoítas de Plasmodium vivax e de Plasmodium knowlesi, que são respectivamente os agentes responsáveis por diferentes formas de malária no homem e no macaco. Essa função foi colocada em evidência por Miller et al, em 1975, mostrando a resistência dos eritrócitos Fy(a-b-) à invasão de merozoítas de P. knowlesi e em 1989, Barnwell et al, confirmaram os mesmos experimentos com P.vivax. Já em 1955 sabia-se que africanos e negros americanos eram resistentes à infecção por P.vivax e que essa população tinham fenótipo Fy(a-b-).

Elaboradora: Margarida de Oliveira Pinho. Bióloga, Responsável pelo Laboratório de Imunohematologia e Coordenadora da equipe técnica do Serviço de Hemoterapia do Instituto Nacional de Câncer – M.S. – RJ. Especialista em Hemoterapia – Instituto Fernandes Figueira – Fiocruz e em Gestão de Hemocentros – ENSP – Fiocruz – Título de Proficiência Técnica em Imunohematologia pela SBHH.

Referências Bibliográficas:

RDC 1.353, de 14 de Junho de 2011.
Covas, D.T., Langhi, J.D.M., Bordin, J.O. – Hemoterapia: Fundamentos e Prática – São Paulo – Editora Atheneu, 2007.
HARMENING, D. Técnicas Modernas em Banco de Sangue e Transfusão. 4ª ed – Editora Revinter,2006.
Castilho L, Rios M,Pellegrino J Jr, et al. A novel FY allele in Brazilians. Vox Sang 2004;87(3):190-5
BEIGUELMAN, B. Os sistemas sanguíneos eritrocitários. 3ª ed – Editora FUNPEC, Ribeirão Preto – SP, 2003.
GIRELLO, A.L. e KUHN, T.I., Fundamentos da Imnohematologia eritrocitária. 3ª ed – Editora Senac, São Paulo, 2012

O SISTEMA DUFFY E SUA RELEVÂNCIA NA MEDICINA TRANSFUSIONAL
Análise das respostas e comentários dos participantes

Pergunta 7: Alguns antígenos como o K são mais imunogênicos (maior capacidade de provocar uma resposta imune) que outros.
A alternativa correta é a opção 4: “O antígeno K é mais imunogênico que o antígeno Fyª e Fyb” pois o antígeno K é mais imunogênico que o Fya que é mais imunogênico que o antígeno Fyb .
As alternativas 1 e 2 estão incorretas, pois o antígeno K é mais imunogênico que os antígenos do sistema Duffy.
A alternativa 3 está incorreta pois o antígeno Fya é mais imunogênico que o antígeno Fyb.
Nota: A produção de anticorpo também depende da grande variabilidade individual quanto à capacidade de resposta imune ao estímulo antigênico. A capacidade imunogênica do antígeno e do indivíduo é o que define a produção ou não do anticorpo.

Pergunta 10: A alternativa incorreta é a opção 4: Os antígenos Fya e Fyb são destruídos por enzimas proteolíticas, como bromelina, ficina, papaína entre outras.
A alternativa 1 está correta. Foram identificados no cérebro, pulmão, baço, tireoide, timo, rim, cólon, endotélio.
A alternativa 3 está correta. Os antígenos podem estar em dose simples ou dose dupla ex.: Fya em dose dupla (Fya+Fyb-); Fya em dose simples (Fya+Fyb+).

Pergunta 14: A alternativa correta é a opção 4. Os antígenos anti-Fyª e anti-Fyb podem causar reação transfusional tardia.
A alternativa 1 está incorreta pois apresenta efeito de dose.
A alternativa 2 está incorreta pois podem aglutinar em salina.
A alternativa 3 está incorreta pois podem reagir em meios de baixa concentração iônica.

Pergunta 15: A alternativa correta é a opção 3, Fenotipadas, conforme descrito a seguir no trecho do Ato de Portaria Nº 1.353 de 13 de Junho DE 2011.
#ATO PORTARIA Nº 1.353 DE 13 DE JUNHO DE 2011.
IV – quando um receptor apresentar anticorpos antieritrocitários irregulares clinicamente significativos nos testes no § 3º do art. 114 deste Regulamento, ou tiver antecedentes de presença de tais anticorpos, o sangue total ou concentrado de hemácias a serem transfundidos devem ser compatíveis e carecer dos antígenos correspondentes. Recomenda-se a profilaxia para autoimunização contra outros antígenos utilizando-se concentrados de hemácias fenotipadas;
V – para pacientes que não apresentam anticorpos antieritrocitários que estão ou poderão entrar em esquema de transfusão crônica recomenda-se a utilização de concentrado de hemácias fenotipadas compatíveis principalmente para os sistemas mais imunogênicos (Rh, Kell, Duffy, Kidd e MNS), isto sob avaliação médica.

Gabarito

Pergunta 1 – Opção 4
Pergunta 2 – Opção 1
Pergunta 3 – Opção 3
Pergunta 4 – Opção 2
Pergunta 5 – Opção 4
Pergunta 6 – Opção 2
Pergunta 7 – Opção 4
Pergunta 8 – Opção 3
Pergunta 9 – Opção 2
Pergunta 10 – Opção 4
Pergunta 11 – Opção 3
Pergunta 12 – Opção 1
Pergunta 13 – Opção 3
Pergunta 14 – Opção 4
Pergunta 15 – Opção 3

Elaboradora: Margarida de Oliveira Pinho. Bióloga, Responsável pelo Laboratório de Imunohematologia e Coordenadora da equipe técnica do Serviço de Hemoterapia do Instituto Nacional de Câncer – M.S. – RJ. Especialista em Hemoterapia – Instituto Fernandes Figueira – Fiocruz e em Gestão de Hemocentros – ENSP – Fiocruz – Título de Proficiência Técnica em Imunohematologia pela SBHH.

Referências Bibliográficas:

Questão 7: Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.27 no.2 São José do Rio Preto Apr./June 2005. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-84842005000200011
RDC 1.353, de 14 de Junho de 2011.
Covas, D.T., Langhi, J.D.M., Bordin, J.O. – Hemoterapia: Fundamentos e Prática – São Paulo – Editora Atheneu, 2007.
HARMENING, D. Técnicas Modernas em Banco de Sangue e Transfusão. 4ª ed – Editora Revinter,2006.
Castilho L, Rios M,Pellegrino J Jr, et al. A novel FY allele in Brazilians. Vox Sang 2004;87(3):190-5
BEIGUELMAN, B. Os sistemas sanguíneos eritrocitários. 3ª ed – Editora FUNPEC, Ribeirão Preto – SP, 2003.
GIRELLO, A.L. e KUHN, T.I., Fundamentos da Imnohematologia eritrocitária. 3ª ed – Editora Senac, São Paulo, 2012.

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